Irmãos e irmãs,
Estaremos
nas próximas horas vivendo o tempo da Quaresma, cumprindo destarte uma vez mais
o ciclo litúrgico sabiamente estabelecido pela Igreja, como de resto toda a
nossa vida transcorre por meio de ciclos, assim também como tudo no Universo.
O
ciclo da Quaresma, que se inicia na quarta feira de Cinzas, é uma quadra de
semanas que antecede a mais importante festividade da Cristandade, a Páscoa do
Senhor, pois se é verdade que o seu nascimento, o seu Natal, é de grande
importância no plano salvífico de Deus (mesmo hoje em dia artificialmente
levado a um grau de comercialização exacerbado), o momento de Sua ressuscitação
no domingo de Páscoa é sem dúvida de maior importância para nós, pois nossa fé
reside principalmente na crença do túmulo vazio, da certeza da vitória da vida
sobre a morte.
Como
modo de preparação para a comemoração da Páscoa do Senhor vivemos ano após ano
o período da Quaresma, na mesma medida em que a quadra do Advento precede a
celebração do Natal.
Este
período de grande riqueza e significado para os cristãos foi em certo momento
da história da Igreja, mais precisamente no obscurantismo da Idade Média,
revestido de certo grau de misticismo secular, em seu entorno foram adaptadas
lendas e sua vivência legítima quase foi negligenciada.
Momentos
de grande importância na vida das pessoas e da Igreja devem ser precedidos por
um tempo de reflexão, de interiorização e de entrega. Isto é o que necessitamos
fazer neste período quaresmal, para podermos nos qualificar a viver a
verdadeira Páscoa e para nos alegrarmos com a incomensurável misericórdia de
Deus ao sacrificar seu único Filho em nosso favor.
A
liturgia da quadra da Quaresma é voltada para a recordação da bondade de Deus,
do ministério amoroso de Jesus Cristo e das práticas cristãs necessárias para
nos distinguirmos como ovelhas em um mundo repleto de bodes. Muitas pessoas se
enganam pensando que a mera adesão intelectual a Cristo (Aquele que crê em mim
viverá, Jo 11:25) já lhe assegura lugar garantido no céu. Porém lembremos que
muitos crêem em Jesus; o próprio inimigo, Satanás, creu Nele, mas será que
apenas a crença intelectual, sem a necessária prática cristã seja suficiente
para alcançarmos a coroa da vida? Não, nossa adesão ao projeto de salvação de
Deus vai além de mera adesão intelectual, pois conforme nos disse o
próprio Cristo “Nem todo o que diz,
Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, Mt 7:21). Quem então entrará no
Reino de Deus? No mesmo momento Jesus nos diz: “somente aquele que faz a
vontade de meu Pai”.
Conhecer
ou relembrar como fazer a vontade de Deus de forma a habilitarmo-nos a entrada
no Seu Reino é um dos objetivos da liturgia quaresmal. Outros são o de reflexão
de nossas próprias vidas em vários aspectos, em especial no plano espiritual,
mas também refletirmos sobre nossa saúde física e mental e o cumprimento de
nossos compromissos de filhos, pais, esposos, etc.
Do
ponto de vista prático, visando adotarmos uma postura coerente com este período
reflexivo, convém que não somente na liturgia congregacional, íntima, mas
também no ambiente do mundo, devemos exteriorizar alegria, mas não exultação,
contendo nossas atitudes para explodirmos em alegria na Páscoa. Praticar mais
nossa generosidade para com o próximo, em especial aos mais pobres, aos desvalidos
e a todos os perseguidos e mantendo comedimento na alimentação, na euforia das
festas seculares, enfim, preparando-nos convenientemente para a grande festa da
Páscoa.
Desejo
a cada membro da Igreja Anglicana Tradicional, aos seus familiares e amigos,
bem como a todos os cristãos espalhados no mundo uma rica e abençoada Quaresma.
D. Rui C. Barbosa
(Arcebispo Provincial)
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