Amadas irmãs,
amados irmãos, que a paz de Deus invada a sua vida!
Convido a
todas e todos a refletirmos juntos sobre a passagem evangélica do próximo
domingo (11 de maio), o 4o Domingo de Páscoa. Nele celebraremos a presença
do Bom Pastor, cuja narrativa evangélica de João traz-nos uma das mensagens do
próprio Cristo Jesus que apresentam a imagem do pastor com suas ovelhas.
Vejamos o texto:
“Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela
porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante; o
que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre: as ovelhas
ouvem a sua voz e ele chama as suas ovelhas uma por uma e as conduz para fora.
Tendo feito sair todas as que são suas, caminha à frente delas e as ovelhas o
seguem, pois conhecem a sua voz. Elas não seguirão um estranho, mas fugirão
dele, porque não conhecem a voz dos estranhos". Jesus lhes apresentou essa
parábola. Eles, porém, não entenderam o sentido do que lhes dizia. Disse-lhes
novamente Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das
ovelhas. Todos os que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas as
ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo;
entrará e sairá e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e
destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. (Jo 10:1-10)
Mais uma vez,
Jesus comunica-se por intermédio de imagens concretas, reais, cotidianas e, ao
mesmo tempo, perenes. Igualmente, Ele o fez, em diversas outras vezes, utilizando a figura de outros trabalhadores
rurais – o pescador e o plantador de trigo –, profissões simples e comuns de
seu tempo, mas com práticas extremamente marcantes e conhecidas.
O pescador
que, de peixes, passa a ser pescador de homens, bem como o semeador capaz de,
após o plantio e a espera do tempo certo da colheita, separar o joio do trigo.
Temos na
presente passagem, o pastor na condução de suas ovelhas. Não na lógica da
passividade da ovelha seguindo, sem discernimento, qualquer chamado a ela
lançado. Tampouco na visão de um animal manso e dócil que apenas responde aos
chamados, independente de quem seja, para realizar suas caminhadas, sem agir de
forma ativa em seu cotidiano.
Percebam a
riqueza dessa passagem por dois ângulos: o do amoroso pastor com suas ovelhas, conduzindo-as pelo caminho
seguro; e o das ovelhas que seguem somente o pastor a quem por elas é
reconhecido como líder, pois elas não seguem qualquer pessoa que as chamam.
Elas podem até se mover, correr e seguir estrada, caso sejam agredidas,
assustadas ou ameaçadas. Porém, somente seguem o pastor por elas reconhecido. Atendem,
apenas, ao seu chamado.
Lembro-me,
novamente, da reflexão apresentada por um líder religioso ao destacar a
facilidade das pessoas dizerem-se cristãs, nem sempre agindo de forma condizente
com os ensinamentos do Cristo Jesus. Disse, então, que, o mais importante, não
era o rótulo de cristão, mas sim a real vivência de um discípulo e seguidor de
Jesus.
Vejam as
ovelhas mencionadas na passagem em tela. Elas têm a possibilidade de se
manterem imóveis ou de se direcionarem para outro lado, permanecendo
indiferentes aos chamados do pastor, mas quando elas o reconhecem como o “seu
pastor”, o seu verdadeiro líder, elas o seguem sem hesitar, pois sabem que, com
ele, estão em segurança.
Percebam que
Jesus colocou-se, além de pastor, como a porta das ovelhas, imagem que, igual à
época de Jesus, traz-nos a ideia de segurança e proteção, e, ao mesmo tempo, de
passagem, de caminho correto para sair de dentro de casa, da fortaleza, da
proteção contra inimigos e ladrões.
Ao saírem pela
porta, com a segurança do pastor, as ovelhas tomam seu rumo, seu caminho, de
forma segura e certeira da chegada ao destino correto. Da mesma forma que
oferece segurança às suas ovelhas ao passar pela porta e na condução do caminho
apropriado, dá, também na condição de portal, indicativo correto à entrada da
cidade, à entrada no Reino de Deus. Seguindo seu pastor, as ovelhas sentem-se
seguras de saírem para o mundo e, ao mesmo tempo, de entrarem no verdadeira
morada divina.
Minhas irmãs,
meus irmãos, sempre existe um pastor na vida de qualquer pessoa. Sempre haverá
algo ou alguém que nos aponta o caminho. Essa liderança, esse pastor pode ser
uma pessoa, um ensinamento, uma proposta de vida, algo a se apegar e direcionar
ao caminho a ser escolhido e às decisões a serem tomadas.
A questão é:
Quem, de fato, é o pastor de nossa vida? O que, ou a quem seguimos, para que
tenhamos mais segurança no caminhar e a certeza da chegada no destino desejado?
As ovelhas
fazem sua escolha. Optam por seguir o seu pastor. Movimentam-se em sua direção
e o seguem, tomando a estrada onde ele a frente estiver.
Diferentemente
das ovelhas, manter-nos-emos parados e estáticos diante dos chamados e dos
ensinamentos de Jesus? Não como utilizadores de rótulos, de títulos, como mero
espectadores da vida e frequentadores de templos e rituais. Mas como
verdadeiros seguidores de Jesus.
Muitos poderão
até questionar: “onde está Jesus para que
eu possa segui-lo?”; “qual é a
estrada pela qual Ele caminha, para que eu possa toma-la e colocar-me em sua
direção?”
Cristo nos
apontou o caminho, caminhando. O Salvador nos mostrou a direção de nossa
estrada, seguindo-a. Certamente, seguir Jesus como nosso pastor não significa,
apenas, participarmos de celebrações e ouvirmos, por mais atentos que
estejamos, as suas mensagens evangélicas. Seguir Cristo, tê-lo como pastor é
pisar nas estradas pelas quais Ele passou, viver a vida que Ele viveu, amar
como Ele amou.
Posicionarmo-nos
como meros espectadores da degradação da humanidade, mesmo participando de
todos os cultos religiosos disponíveis, somente estaremos vivendo a farsa de nos
chamarmos de cristãos sem sermos discípulos de Cristo. Se aceitarmos a miséria
humana e a desigualdade entre os seres, de forma pacífica e cordata, estaremos
apenas, portando a etiqueta, a marca de ovelhas do Bom Pastor, mas aceitando
que outros pastores nos conduzam. Se não transbordarmos de amor pelo irmão,
conhecido ou não, amigo ou não, parente ou não, permitindo que nossas ações
sejam conduzidas e direcionadas ao bem alheio e a felicidade comum, lutando
contra o sofrimento das pessoas, estaremos fazendo de conta que aceitamos Jesus
como nosso pastor, mas estamos, de fato, seguindo em outra direção que não a dele.
Um fraterno
abraço a todas e todos vocês e fiquem em Paz.
*Monsenhor Padre João Milton Menezes, encarregado da
comunidade de Brasília e no entorno, Médico, professor universitário,
terapeuta comunitário e ex Secretário da Saúde do Distrito Federal.
Monsenhor João Milton é editor semanal desta página de meditações com
base no calendário litúrgico ecumênico, refletindo sobre o Evangelho e
textos bíblicos que antecedem cada domingo.
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