Com a nomeação do novo Arcebispo de Canterbury, no mês passado, o Rev. Wabukala, Primaz do Quênia e Presidente da Associação de Confissão Anglicana (FCA) - instrumento alternativo de comunhão anglicana criado em 2008 - pronunciou em nome dos anglicanos que não estão em comunhão com a Sé de Canterbury. Ao que parece, num primeiro momento, o pronunciamento se mostrou bastante favorável ao diálogo e a reaproximação. Ao mesmo tempo, Rev. Wabukala não deixou de ser crítico e decisivo em seus posicionamentos sobre a atualidade da Comunhão Anglicana. Esse pode ser um primeiro passo para uma reconciliação ou um passo definitivo para a sustentação de um abissal fosso nas relações entre irmãos de mesma tradição. Resta-nos saber o que prevalecerá nesse tipo de diálogo: interesses evangélicos, como argumenta o Rev. Wabukala ou mera mantenência de Associações e títulos que só engrandessem o orgulho pessoal do mesmo Reverendo e Primaz?
Eu, particularmente, não concordo com essas divisões corridas no Anglicanismo desde a década de 90. Esse "espírito divisionista", provindo da Reforma, só mostra a fraqueza de Igrejas que estão preocupadas mais com o poder e com o bolso dos fiéis do que com a propagação do Reino de Deus. Prova disso, que o divisionismo é mais dia-bolico que sim-bolico (parafraseando Boff) é o caso das Igrejas Evangélicas de nossa atual conjuntura eclesiológica. Quem aguenta tanta denominação nova todo dia? E por quais motivos essas divisões ocorrem? Minha esperança, enquanto Anglicano não pertencente à Sé de Canterbury (não por opção, mas por situação) é que a FCA, que nossa Província diz que faz parte (não sei até que ponto), retome o diálogo com a Comunhão de Canterbury, como o propósito de se chegar a um acordo , no mínimo racional, senão evangélico. O que digo, de modo particular - e isso nada tem a ver com a Sé Diocesana - não é uma partidarismo a um dos lados da moeda. Ao contrário, rebato as pseudo motivações que levaram diversos movimentos a se retirar da unidade ou se auto-proclamarem Anglicanos, por puro gosto. Que motivações reais temos para viver em "pé-de-guerra" e sustentarmos briguinhas infantis embrulhadas para presente com papeis coloridos de pseudo problemas teológicos? Qual é o valor da espiritualidade Anglicana hoje nesse emaranhado de divisões e cismas que vem sofrendo a Igreja? Como desenvolver um trabalho sério, a partir do evangelho se, quando você se apresenta a alguém como Anglicano a pessoa já te pergunta de corrente A ou corrente B?
Não estou sustentando aqui, com essas medíocres palavras, um uniformitarismo ou uma falsa unidade, haja vista que o próprio ethos Anglicano já se compõe com a presença do múltiplo no uno (catolicismo e evangelicalismo). Mas o que penso é que devíamos pensar o que tem motivado esses revisionismos no Anglicanismo e qual a dificuldade em nos unirmos a um Instrumento Único, seja Canterbury seja FCA. Parece que a proposta evangélica fica em último plano quando falamos de Instrumentos de Comunhão... Afinal, o que nos une?
Sei que estas palavras podem deixar chateadas muitas pessoas, mas mesmo assim o faço, com intuito mesmo de provocar o debate. Ao contrário de muitos, agradeceria se viesse críticas a mim. Deixo abaixo transcrito (e horrivelmente traduzido) o pronunciamento do Rev. Wabukala.
"Congratulo-me com a notícia de que o bispo Justin Welby será o próximo Arcebispo de Canterbury. Acredito que sua nomeação deve dar esperança a todos nós, que por muito tempo espera por renovação, reforma e genuína unidade. O bispo Justin trará para a Comunhão Anglicana uma combinação especial de dons e experiência. Eu o conheço como um servo profundamente comprometido de Jesus Cristo que honra as Escrituras como Palavra de Deus e como pacificador corajoso. Tenho confiança de que essas qualidades, juntamente com seu envolvimento sustentado em negócios e finanças, lhe permitirá articular o senhorio de Cristo à assistência do mundo bem como à Comunhão em contínua desordem. Depois que os Primazes da Associação de Confissão Anglicana se reuniram no início deste ano em Londres, dissemos que estávamos orando por um "líder piedoso do povo de Deus" emergisse do processo seletivo para o próximo Arcebispo de Canterbury e eu acredito que nossa oração foi ouvida. No entanto, seria injusto e enganoso sugerir que um homem pudesse resolver a crise que tem atormentado a Comunhão Anglicana nos últimos anos e, portanto, reafirmamos nossa crença que "o desenvolvimento futuro da Comunhão Anglicana aceite que a cátedra da Assembleia de Primazes deva ser escolhida pelos próprios Primazes". Nossa proposta, embora não pretendemos negar a honra devida a Canterbury como um olhar histórico, é uma expressão da verdade que temos como vital, que nossa identidade enquanto Anglicanos vem, por primeiro de tudo, da adesão à fé que confessamos. É isso que dá substância e integridade aos nossos laços de afeição e nossos esforços para aliviar a pobreza e promover o desenvolvimento. Enquanto Primaz do Quênia e Presidente da Associação Global de Confissão Anglicana, eu aguardo ansiosamente para trabalhar com o novo Arcebispo de Canterbury como um parceiro no evangelho para restaurar a necessária convicção, confiança e unidade à família profundamente fraturada anglicana. Asseguro-lhe das orações desta Província e a Associação Global de Confissão Anglicana enquanto ele se prepara para este grande chamado para servir a Igreja da Inglaterra e a da Comunhão".
The Most Rev. Dr. Eliud Wabukala
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