terça-feira, fevereiro 7

O que buscamos?

Nós, enquanto diocese anglicana tradicional, enraizada em solo goiano, mas abraçando o centro-oeste brasileiro, temos um único propósito: humanizar. Nesta palavra, tão batida e pouco significada e praticada, queremos traduzir o que nos propomos a fazer enquanto seguidores de Jesus Cristo.

Humanizar quer dizer "torna-se humano". Ora, já não nascemos humanos? Todos os dias nascem homens e mulheres, mas humanos, são raros. Muitos morrem sem encontrar-se com a humanidade. Outros a descobrem quase no fim da vida, outros ainda sentem-se chamados a ser humano, mas acabam abandonando o chamado. Há aqueles que ouvem falar, e aqueles que a vislumbram, mas não o alcançam. Enfim, ser humano não é algo dado, mas constituído.

Do que falamos quando dizemos humanos? Dois termos podem nos ajudar: Adão e humildade. O equivocado nome de Adão, que muitos ainda acreditam ser o primeiro homem criado por Deus de modo literal, nos ajuda a compreender qual é a essência humana. Segundo os textos originais em hebraico do Gênesis,  אדם (adam) é o termo que se utiliza para dizer homem. Com efeito, adam vem da palavra אדמה (adamá) que significa terra. Então, homem, em hebraico, é aquele que pertence à terra, ou aquele que foi feito da terra. Esta primeira noção já nos ajuda a compreender o que é ser humano.

Um passo a mais deve ser dado. O segundo termo é humildade. Do latim, humildade significa animus demissus, literalmente: "abaixo da alma". A força desta palavra está no "abaixo". Um homem humilde seria na origem das palavras, portanto, aquilo que se encontra abaixo da terra. o sustentáculo da terra, a força que suporta a terra. Se pensarmos no que sustenta e dá força para a terra, logo encontramos a ideia de "humus". Aqui, encontramos um segundo ponto para pensarmos o humano.

Assim, ser humano significa ser "humus da terra", ou seja, é aquilo que sendo parte da terra a sustenta.  É aquele que compreende sua força hermenêutica enquanto terra, enquanto natureza, enquanto relação e se utiliza disso para preservá-la e ampliá-la. Este é o sentido que o autor de Gênesis 1, 28 quer dizer quando escreve: "... enchei a terra e dominai-a", ou seja, sendo homem deve também ser humano, que significa sustentá-la

Contudo, nem todo homem é humano, pois nem todo homem sabe que da terra lhe pertence sua força e, por isso, deve ser humus para ela, i. é, deve ser sua força. Ao contrário, muitos preferem se auto-afirmar como Ανθρωπος, o centro do universo. Esta autoafirmação fruto das reflexões renascentistas e confirmadas pelo iluminismo levou a humanidade a se desumanizar, a se transformar em simples homens e mulheres, sem sem serem humanos.

Hoje, a dicotomia, que antes era absurdo, entre homem e humano é uma realidade. Esta cisão precisa ser desfeita e reorientada para um sentido mais integralizante entre homem e humano. Este é nosso objetivo enquanto Igreja. Estamos em busca da humanidade perdida. Se Diógenes, no passado, gritava publicamente com uma lamparina na mão em busca de um homem, pois o mesmo não conseguia perceber tal realidade, hoje, gritamos com nossas lamparinas virtuais em busca da humanidade.

Ao contrário de Nietzsche, que compreendia que enquanto não sucumbisse o último homem não haveria a passagem do homem que rejeita a vida em nome da moral para o "além-do-homem" (Übermensch), aquele que valorizaria a vida natural; nós diríamos que o homem nem chegou ao estágio de "homem" para ser superado. Precisaríamos ainda resgatar a humanidade do homem para que haja possibilidades de se pensar no "além-do-homem".

Por fim, queremos convidar a todos nessa jornada em busca da humanidade do homem. Quem tiver a coragem de se encontrar e encontrar o outro, nas relações, pode-se dizer seguidor daquele que plenamente foi humano: Jesus Cristo!

Pe. Victor 

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